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O legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016

Brasil deve cada vez mais apostar no planejamento econômico e urbano por meio dos arranjos público e privado


Por: Isadora Cohen e Murilo Tambasco. Publicado Originalmente no JOTA.


Nos últimos dias, o planeta inteiro emocionou com as disputas dos Jogos Olímpicos de Paris. A cidade luz, berço do mais fino esplendor intelectual e artístico, mais uma vez reafirmou seu espírito revolucionário ao realizar a cerimônia de abertura por meio da principal artéria da capital francesa (o rio Sena) e trouxe, através das elegantes tochas olímpicas, uma importante mensagem ao futuro da humanidade: igualdade, água e paz.


Ao assistir a um evento de tal magnitude, beleza e força, qual brasileiro não sentiu saudades dos jogos realizados no Rio de Janeiro em 2016? Nossa cidade maravilhosa deu as boas-vindas ao mundo em uma linda festa realizada no estádio do Maracanã, mostrando um pouquinho “desse Brasil que canta e é feliz”, um Brasil com “S”, que foi capaz de fazer muito com pouco[1].


Nós, brasileiros, no entanto, não deveríamos nos orgulhar apenas por termos proporcionado um belíssimo e funcional megaevento esportivo. Isso é o que pode ser apreendido de um estudo pioneiro realizado pela Fundação Getulio Vargas, que alçou um olhar positivo e diferenciado sobre os impactos econômicos e o legado das Olimpíadas de 2016.


Por trás de todos os esforços realizados pelo governo, pela sociedade e pelo empresariado, que resultaram na construção de diversas edificações, estádios e de toda a infraestrutura necessária para o andamento das disputas esportivas (o que incluiu grandes projetos em setores como saneamento, mobilidade urbana, preservação ambiental, cultura e educação), esteve a concepção de que “os Jogos Olímpicos deveriam servir à cidade, e não se servir da cidade”.


Desta forma, o planejamento das Olimpíadas de 2016 seguiu o mandamento de que os Jogos do Rio deveriam ser “jogos de legado”, o que contribuiu enormemente para dar foco e senso de urgência a uma série de questões de interesse da cidade e viabilizar projetos transformadores, que continuam a se desenvolver, e prestar continuamente serviços à população fluminense.


Segundo o estudo, para cada R$ 1 investido em instalações esportivas, outros R$ 5 foram destinados a obras de legado para os cidadãos. Sendo assim, diversas intervenções na cidade carregam a digital olímpica, das quais vale destacar 1) o Porto Maravilha, que viabilizou uma série de outros empreendimentos relacionados a infraestrutura, mobilidade urbana e equipamentos culturais, como a revitalização da praça Mauá; 2) a construção do VLT Carioca e da linha 4 do metrô; 3) a implementação de um sistema de transporte coletivo de Bus Rapid Transit, as  BRTs Transoeste, Transcarioca e Transolímpica; 4) a revitalização, adequação e requalificação de diversos outros projetos comprometidos com o aprimoramento da infraestrutura urbana e ambiental.


Os recursos envolvidos em tais iniciativas originaram-se majoritariamente do setor privado, a partir, principalmente, de PPPs e concessões, refletindo, desde a concepção inicial dos projetos, a preocupação por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro com o uso racional do dinheiro público.


As despesas com construção de estádios, por exemplo, contaram com a participação de 80% do setor privado, assim como as instalações, como a vila dos atletas e o Parque Olímpico, que permitiram ao Rio concentrar e alocar seus recursos próprios em outras prioridades, como a educação e a saúde pública.

Além disso, os Jogos do Rio tentaram eliminar os chamados “elefantes brancos”. Como forma de combater o desperdício e evitar a subutilização das estruturas elaboradas para as olimpíadas, os projetos foram planejados de forma sustentável, com o intuito de ganharem novas finalidades após o evento.


Em geral, isso foi possibilitado pelo pioneirismo da cidade no desenvolvimento daquilo que foi chamado de “arquitetura nômade”, em que os materiais de arenas e estruturas pudessem ser desmontados e reaproveitados para a construção de novos equipamentos públicos e novos bairros.


Vale ainda destacar que estas medidas, que conformam uma excepcional forma de planejamento e que viabilizaram uma enorme gama de projetos de infraestrutura urbana, possibilitaram à cidade e ao estado expressivos benefícios econômicos.


De acordo com o estudo, a capital registrou um impacto positivo de R$ 51 bilhões sobre o PIB, R$ 5,3 bilhões na arrecadação de impostos, R$ 36 bilhões sobre a renda das famílias e 465 mil empregos criados. Por sua vez, o estado do Rio observou um aumento de R$ 69 bilhões sobre o PIB, R$ 7,2 bilhões na arrecadação de impostos, R$ 49 bilhões sobre a renda das famílias e 633 mil empregos gerados.


As Olimpíadas de 2016 mostraram ao mundo a capacidade dos países em desenvolvimento de realizaram grandes eventos com maestria. Mas, mais do que uma vitrine ao exterior, os Jogos do Rio devem servir de exemplo ao próprio Brasil, que cada vez mais deve apostar no planejamento econômico e urbano por meio dos arranjos público e privado para transformar de maneira surpreendente nossas condições socioeconômicas e ressignificar positivamente os padrões de nossa sociabilidade.


 

[1]Estima-se que o custo da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio 2016 tenha sido 85% menor que o das Olimpíadas de Londres 2012.

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